Por dentro da Catedral de Santiago de Compostela

Por dentro da Catedral de Santiago de Compostela

Visitar a Catedral não é fácil, se pretendemos explorar ao máximo todo o seu rico e inspirador conteúdo. Comecemos por lhe dar conta do layout da catedral e depois convidamo-lo a levar em mente a visita a alguns pontos que serão de observação obrigatória.

Seguindo o modelo francês das igrejas de peregrinação românicas, o espaço interior da Catedral de Santiago está organizado sobre a tradicional planta de cruz latina com três naves em cada braço.

A nave central está coberta por uma abóbada de canhão de e as laterais por abóbadas de aresta. Os volumes distribuem-se sobre elegantes arcos de meio ponto, coroados por uma tribuna o trifório que percorre o tramo longitudinal do templo e continua pelos braços do transepto e o deambulatório.

O centro da nave maior esteve ocupado entre o séc. XII e XVI por um majestoso coro de pedra do Mestre Mateus, uma parte da qual se pode ver hoje no Museu Catedralício. Foi substituído em 1608 por um coro de madeira renascentista que acabou por ser desmontado em 1946, com o qual a vista do altar se tornou maior.

Na cabeceira, um deambulatório rodeia o altar-mor com a finalidade de facilitar o acesso de fiéis e peregrinos às capelas radiais, por um lado e às relíquias que se conservam no mausoléu subterrâneo, por outra.

As Capelas existentes na Catedral são imensas. Tantas que merecem o artigo à parte As Capelas da Catedral de Santiago.

Altar-mor da Catedral

O Altar-mor da catedral de Santiago de Compostela é uma amostra da maravilhosa intervenção da arquitectura barroca na Catedral românica. O altar do séc. XII, foi rodeado de 36 colunas salomónicas douradas e cobertas de pâmpanos. Mais tarde substitui-se o alto românico por um de prata barroco, presidido por Santiago num hábito de peregrino, sobre o que se colocou o espectacular baldaquim sustentado por anjos e coroado por a efígie equestre do Apóstolo e o escudo de Espanha.

O esplendor do Altar-mor aumentou quando se acrescentaram as grades, se policromaram as abóbadas e se pavimentou o conjunto em mármore. O trabalho de Peña de Toro foi completado pelo mestre Domingo Andrade, com madeiras douradas, mármores, jaspes e prata; e pelos órgãos do séc. XVIII, decorados por Miguel de Romay. Da cúpula octogonal podemos ver pendurada, face ao altar, a corda e o sistema de roldanas concebido no séc. XVI para pôr a funcionar o Botafumeiro.

Botafumeiro

O Botafumeiro é um enorme incensário usado desde a Idade Média como instrumento de purificação da catedral onde se apinhavam multidões. Hoje, 800 anos mais tarde, continua a ser a delícia dos fiéis quando depois da comunhão toca o Hino do Apóstolo nos órgãos barrocos e este portento da física começa o seu assombroso percurso pendular face ao Altar-mor, para subir e quase bater na abóbada do transepto.

Para pô-lo em movimento são precisos 8 homens, ‘tiraboleiros’, que o trazem da Biblioteca carregado de incenso e carvão. Depois de atá-lo à maroma que pende face ao Altar-mor com três nós grossos fazem-no oscilar puxando com força e precisão quando está no ponto inferior do seu percurso. De esta forma o Botafumeiro alcança em apenas minuto e meio os 68 quilómetros por hora e chega a formar um ângulo de 82 grados sobre a vertical, descrevendo um arco de 65 metros ao longo do transepto. São 17 ciclos de vaivém que deixam os espectadores uma recordação para toda a vida.

O Botafumeiro já aparece no Códice Calixtino, mencionado como Turibulum Magnum, por isso o ritual data, pelo menos, do séc. XII. Na altura era pendurado numas vigas de madeira cruzadas no zimbório. O mecanismo actual, baseado num movimento por roldanas e na lei do pêndulo, foi concebido durante o Renascimento pelo mestre Celma.

No séc. XV, o rei Luís XI de França pagou o fabrico de um incensário de prata, mas em 1809 foi roubado pelas tropas napoleónicas acampadas no claustro da Catedral. Na actualidade existem dois incensários, que se guardam na Biblioteca Capitular: o mais antigo é de 1851 e foi criado pelo ourives José Losada. É feito em latão banhado em prata, mede 160 centímetros de altura e pesa cerca de 62 kg quando está vazio (costuma chegar aos 100 kg quando cheio de carvão e incenso). O segundo é uma réplica do anterior em prata oferecido pelos Alferes Provisórios da Catedral em 1971.

Durante a sua história quase milenária o Botafumeiro foi alvo de poucos acidentes. No dia do Apóstolo de 1499, enquanto honravam a princesa Catarina de Aragão, o Botafumeiro saiu disparado batendo contra a Porta de Pratarias. O segundo incidente foi a 23 de Maio de 1622, quando a corda rebentou e o Botafumeiro caiu ao chão. No séc. XX partiu as costelas e o nariz a uma pessoa que se aproximou de mais para vê-lo de perto.

Pórtico da Glória

A entrada oeste da Catedral foi rematada em 1188 com a obra cimeira da escultura românica: o Pórtico da Glória. Este soberbo conjunto de três arcos, esculpido pelo Mestre Mateus em apenas 20 anos, dota o átrio do templo de um poderoso simbolismo cuja leitura se ligava com a das restantes fachadas exteriores: pecado original, Redenção e Julgamento Final. Mais de 200 figuras de granito, tão vividas e expressivas como nunca se tinham representado na Idade Média, interactuam com um quadro animado para compor uma mensagem teológica centrada na Salvação do Homem.

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