Sai-se da Vista Alegre em direcção ao IC1, sentido Ílhavo e Aveiro até ao centro de Aveiro (Rossio). Seguindo pela direita do Canal das Pirâmides, chega-se à antiga lota, ponto de partida da lancha para São Jacinto (existem carreiras regulares com intervalos aproximados de uma hora entre as 07.00h e as 24.00h).
A povoação de São Jacinto, fica situada na extremidade da Península com o mesmo nome, que pelo Norte separa a Ria de Aveiro do Oceano Atlântico. Velha aldeia piscatória, conhecida já no recuado séc. XV pela denominação de Areias, só toma o nome deste Santo dominicano, a partir de 1744, quando os pescadores ao puxarem as redes junto da ermida, trouxeram dentro delas uma imagem a que chamaram S. Jacinto.
A situação geográfica de isolamento, a 60 km de distância via terrestre da freguesia mais próxima e a cerca de 30 minutos por via marítima, comprometeu desde sempre o povoamento e crescimento da freguesia. Assim, em 1981, S. Jacinto tinha a viver no seu termo 1024 pessoas, número que sofreu uma ligeira quebra para 983, albergados em 405 alojamentos.
A plantação da mata e consequente fixação das dunas permitiu o crescimento de braços ocupados na agricultura, de tal modo que ainda hoje se mantém uma actividade importante, ocupando uma larga fatia da população que dela obtém alimentos como a batata, o milho, o feijão e as hortícolas. Ao mesmo tempo, a pesca em simultâneo com a agricultura, e tantas vezes pelos mesmos braços, mantém-se uma actividade com relevo para a criação de riqueza na terra. Contudo, nos últimos anos, surgiram dois sectores que claramente superarn em produto criado as duas primeiras actividades: o Turismo e a Industria.
Como últimas notas, registe-se que além dos pólos naturais despertadores de atracção, existem outros que também merecem um olhar – a igreja matriz (antiga ermida da Senhora das Areias) e o cruzeiro. Assim como motivos de índole gastronómica, onde brilha a caldeirada de peixe e enguias. Para ver são também os trabalhos de artesão relacionados com a ancestral pesca – bateira (para percorrer as águas pouco fundas da ria), alfaias para pesca e ainda os bordados.
Reserva Natural das Dunas de S. Jacinto
A zona lagunar a que vulgarmente chamamos Ria de Aveiro, as suas ilhas e terrenos adjacentes, são de formação recente e resultaram da sedimentação que se iniciou neste local da costa no século X.
Com o tempo, a acção dos ventos dominantes do quadrante Oeste, influenciando a direcção normal da crista das ondas, aliada às correntes de circulação litoral de Norte para Sul, deu origem a uma sedimentação costeira, com a formação de duas restingas, caminhando em sentidos opostos, uma de Espinho para Sul e outra do Cabo Mondego para Norte.
Durante as marés vivas, a acção combinada do vento e das ondas sobre um banco de areia submerso, paralelo à costa, levaram à formação das dunas. A barra da laguna veio sucessivamente descendo em latitude ao longo dos últimos dez séculos, até ser artificialmente estabilizada no início do século XIX no local onde hoje se encontra.
Em Janeiro de 1802, o Coronel de Engenharia Reinaldo Oudinot e o Capitão de Engenharia Luís Gomes de Carvalho, mandatados pelo príncipe regente D. João, encetaram um projecto para a abertura e estabilização da barra de Aveiro. Em 1808, após algumas dificuldades, as águas que alagavam as casas e os campos de Aveiro puderam correr e juntar-se ao mar.
Nesta altura existiam na zona inúmeros pântanos, antros de mosquitos, responsáveis pela transmissão de doenças como a malária. Essa foi, uma das razões que levaram à secagem e drenagem das referidas zonas húmidas, a que se juntou a necessidade de fixar as areias pela florestação, o que viria a acontecer a partir do final do século XIX, pelos Serviços Florestais. A manutenção deste espaço vital conduziu à criação da Reserva Natural das Dunas S. Jacinto.