Entre o Cávado e o Ave, Vieira do Minho, concelho velho de história, vale sobretudo por nele se localizar a belíssima serra da Cabreira — mãe do oceânico rio Ave — e por aqui ter nascido o célebre padre Casimiro, o detonador do movimento popular da Maria da Fonte.
Maria da Fonte
Mas quem foi esta figura feminina? Está ainda no domínio das hipóteses a sua identificação correcta: poderá ter sido Josefa Caetana, da Casa da Fonte, freguesia de Galegos; ou Maria, de Oliveira, Póvoa de Lanhoso, que, vestida com saia vermelha e machado à cinta, se dirigiu, à frente de um grupo de mulheres, a casa do juiz exigindo que se libertassem as suas companheiras presas, e, como o não tivesse conseguido, se foi à prisão e, à força de machado, com as outras rebentou a porta e soltou as colegas; ou ainda Maria Luísa Balaio, da Póvoa de Lanhoso, ou, finalmente, Maria Angelina Simões, natural de Fonte Arcada.
Talvez seja esta a verdadeira Maria da Fonte. Mulher de instintos fortemente belicistas, ficaria celebrizada na quadra ainda hoje conhecida na região:
Viva Maria da Fonte
De nome tão majestoso
Em Fonte Arcada nascida
Do concelho de Lanhoso.
Percorramos então os caminhos de Maria da Fonte.
Caniçada
No local da sede do antigo concelho de Penafiel de Soaz, onde entronca na Estrada Braga-Chaves a que vem do Gerês, Caniçada tem na sua barragem uma das mais belas paisagens artificiais de Portugal, cuja albufeira foi criada em 1952-1954.
Freguesia em socalcos, onde todos os pequenos campos têm água de algum riacho, nela também merece atenção a cascata de Fagilde. O fraguedo enorme, descomunal, atapetado de erva e musgo, sombreado de várias árvores, curva-se numa ameaça sobre o visitante despreocupado; e em baixo os moinhos esperam a água que, levantando cachões de espuma. Cai de rocha em rocha até parar na velha «cal» (pontão) de madeira.
Pinheiro
Freguesia localizada bem no centro do concelho de Vieira do Minho, nela se situam os viveiros de Turio, do repovoamento florestal da serra da Cabreira.
Mercedores da melhor atenção em Pinheiro são o ribeiro das Campainhas, onde existe uma ampla gruta parcialmente tapada por grinaldas de velha hera, com tecto formado de terra e pedras e capacidade para albergar cerca de 40 pessoas, e, imediatamente a seguir a esta gruta, uma bela e alta queda de água — a cascata de Avidagos, no rio Novelho.
Póvoa de Lanhoso
Vila e sede de concelho, Póvoa de Lanhoso recebeu foral de D. Dinis em 1292 de D. Manuel I em 1514. O seu principal centro de atracção é o situado no alto do monte. Aqui viveu durante largas temporadas a rainha D. Teresa. Segundo a tradição, seu filho D. Afonso Henriques encarcerou-a nele depois da Batalha de S. Mamede. Mas a tradição ligada a este castelo não fica por aqui: teria sido incendiado no século xiii pelo alcaide-mor D. Rodrigo Gonçalves Pereira, que, suspeitando da infidelidade de sua mulher, a terá mandado queimar juntamente com todos os que lá dentro se encontravam.
Em 1680, um devoto, André da Silva Machado, mandou derrubar muralhas, «bastiões, cabelos, veneráveis muros adarvados e ameados», para aqui construir um templo dedicado a Nossa Senhora do Pilar e cinco pequenas capelas, numa imitação do Bom Jesus do Monte, das quais hoje só existem três. O castelo é bonito, sendo as muralhas e torreões modernamente reconstruídos, de acordo com escavações feitas. Apareceram então na base do monte restos de uma citânia, onde se encontraram curiosos objectos, entre eles um capacete de bronze. Daqui se observa uma vasta panorâmica que se alarga pelas serras do Gerês e Cabreira e pelos vales do Ave e do Cávado.
A 3 km da vila, na Estrada de Cabeceiras, encontra-se a Igreja de Fonte Arcada, românica, do século XII.
Rossas
Antiga vila, ainda ufana do seu pelourinho, e onde se encontra o pisão com que se fazem excelentes mantas, Rossas é também senhora do mais espantoso dom da Natureza no concelho de Vieira do Minho: a Candosa.
O rio Ave, depois de se despenhar num poço estreito e fundo, alarga-se e espraia-se, precipita-se à doida por uma ladeira coberta de pedras e penedos, em cujas fendas rompe um ou outro amieiro. A água ora se esconde, ora irrompe em jorros e catadupas de espuma, num fragor indescritível, lembrando um trovão soturno e cavo ou uma orquestra fatídica e infernal. Do lado direito vêem-se os moinhos, dispostos em fila, os pauis e os campos cobertos do mais denso arvoredo.