O que visitar em Bragança

Dentro da cidadela encontra-se um interessante pelourinho — onde eram amarrados e castigados os réus de grandes delitos — formado por uma coluna encimada com algumas esculturas e cuja base é uma porca toscamente esculpida em granito, à qual ainda hoje se chama «porca da vila».

Domus Municipalis Bragança
Domus Municipalis de Bragança

Domus Municipalis de Bragança

Frente ao castelo ergue-se, curiosamente pentagonal, a Domus Municipalis, monumento único da arquitectura civil medieva na Península Ibérica e que se pensa ter sido edificada como casa da água, fazendo a cachorraria interior e exterior converter para a cisterna e sua nascente as águas pluviais. Mais tarde, tornou-se o lugar de reunião dos «homens bons» do concelho.

Ainda dentro do castelo poder-se-á apreciar a velhíssima Igreja de Santa Maria, românica, mas na qual se misturam o estilo renascença e o barroco, em consequência da transformação que sofreu aquando da sua reconstrução no século XVIII. Esta é também a época da pintura que se pode ver no tecto da igreja.

Arquitectura Religiosa de Bragança

Não se pense, porém, que as muralhas do castelo encerram todos os monumentos dignos de ser apreciados na velha cidade. Rica em arquitectura religiosa — mais do que na civil —, em que os estilos se confundem um pouco mercê das destruições havidas e posteriores reconstruções, oferece-nos, ao descer as ruas que dão acesso à cidadela, a Igreja de S. Vicente, primitivamente românica (séc. XIII) e reconstruída no século XVII. Embora o pórtico de acesso seja renascentista, esconde no interior uma capela rica em talha dourada e com uma abóbada pintada e igualmente dourada.

À volta da nave, tem interessante azulejaria do século XVII; lateral e exteriormente, encontra-se também um painel de azulejos, alusivo à proclamação, em 1808, do general Sepúlveda contra a ocupação napoleónica. De interesse ainda o artístico fontanário situado na parede deste painel. Foi nesta igreja, segundo reza a tradição, que teve lugar o casamento de D. Pedro I com Inês de Castro, abençoado pelo deão da Sé da Guarda.

A mesma tradição conta que D- Isabel, que se dirigia para Trancoso para a celebração do seu casamento com D. Dinis, pernoitou na até há pouco Igreja de S. Francisco.

Mais locais a visitar em Bragança

O interior da Domus Municipalis, monumento único da arquitectura civil peninsular da Idade Média (que posteriormente dotou de grandes bens). Esta ao tempo era convento, segundo a tradição edificado na presença de S. Francisco de Assis. Mais tarde, foi convertido em hospital militar e ainda depois em asilo.

A Igreja de S. Bento, padroeiro da cidade, apresenta uma pintura do tecto, atribuída ao pintor religioso Busta-mante, considerada uma relíquia do barroco nordestino.

Dignas de atenta observação são a capela da Casa da Misericórdia, com um retábulo de talha dourada do século XVII, e a velha Igreja de Santa Clara (conventual), onde novamente se confundem o estilo renascença com o barroco, e que possui uma apreciável pintura no tecto, datada do século XVIII.

Na Praça da Sé, a principal da cidade, em cujo centro se ergue um interessante e trabalhado cruzeiro, encontra-se a velha Sé-Catedral, templo quinhentista doado aos Jesuítas, que aqui instalaram um colégio até à data da sua expulsão. Pouco depois, este templo foi doado à Mitra de Miranda, mais tarde transferida para Bragança.

Também aqui o estilo renascença se deixou infiltrar pelo barroco, sendo de apreciar as suas janelas trabalhadas e, no interior, o arco renascentista, o rodapé de azulejos do século XVII, o retábulo de talha dourada e o tecto da sacristia, apainelado e pintado. A igreja liga com o claustro onde funcionava o colégio jesuíta, mais tarde adaptado a liceu, a que dava vida uma imensa e azougada população flutuante de estudantes.

Como curiosidade, há a referir a existência de uma filha da célebre cabra de Coimbra, que os estudantes cognominaram de cabrita de Bragança:

Se Coimbra tem a cabra,
Bragança tem a cabrita.
E em começando as aulas,
Se a mãe berra … a filha grita.

Os Bilhós e a Lareira

Nas longas noites de Inverno, em que o sono espreita e o frio é muito, junta-se a garotada à lareira — uns já com os olhos piscos, outros, mais audazes, desafiando aqueles para uma arrebiana. Pela tarde — se for sábado ou domingo tanto melhor —, cortam-se as castanhas, vai-se pedir o assador quando não o há, faz-se crescer a fogueira e, castanhas já no assador pendurado nas gramalheiras, zac-zac, estourando uma ou outra, até que, meias assadas, já os garotos vão roubando uma aqui outra ali.

Descascadas, barriga cheia de castanhas e afogada com vinho ou água, sempre sobram alguns bilhós. E eis que começa a garotada, mão fechada e cheia de bilhós, bem repimpada no escano:

— Arrebiana, sobressaltada!
— Sobre quantos?
— Sobre cinco!
Mão aberta e não existiam cinco bilhós, mas dois — teria que pagar três.

Deixe um Comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *