Já lhe falamos do que catapultou a Vista Alegre para as baixadas das principais casas reais da Europa e que fez dela a marca que todos reconhecemos – a aquisição da mesma por José Ferreira Pinto Basto, mas ainda lhe continuaremos a falar do mesmo e principalmente da envolvente à fábrica.
Pinto Basto é filho de ricos comerciantes do Porto. Comerciante e industrial notável, a 17 de Março de 1812 compra em hasta pública a Quinta do Paço da Ermida, e três anos mais tarde, compra a Quinta e Capela da Vista Alegre com todos os seus direitos.
A proximidade de um canal navegável com ligação à Ria e ao Mar, à então Vila de Ílhavo, e ainda estar próxima das então julgadas matérias primas, tornaram não só possível, como viável o empreendimento da Vista Alegre, iniciando-se as obras em 1824.
Junto com a Fábrica assiste-se à construção de uma das mais interessantes Aldeias Operárias do século XIX em Portugal, onde se misturam quase trezentos anos de história, num complexo de construções que ainda hoje funcionam e cumprem o seu papel produtivo e logístico.
Para além de todo este magnifico conjunto arquitectónico e urbanístico edificado pela Família Pinto Basto, tem esta fábrica uma história própria, uma epopeia, quase lendária, até ao moderno Grupo Económico em que se tornou hoje.
A mais famosa das fábricas portuguesas de porcelana foi fundada no lugar da Vista Alegre, no início do século XIX, numa imponente quinta do século XVII de que ainda sobrevivem algumas edificações. Beneficiando da proximidade dos areais e pinhais gandareses, a fábrica foi inicialmente destinada ao fabrico de vidros e cristais, tendo rapidamente evoluído para a produção da cerâmica, indústria de grandes tradições regionais, e daí para a porcelana, facto até então inédito em Portugal. Em quase dois séculos de produção, a Vista Alegre acompanhou as várias correntes das artes decorativas do classicismo do estilo império ao orientalismo da Arte Nova.
Capela de Nossa Senhora de Penha de França
Classificada como monumento nacional desde 1910, a capela da Vista Alegre é consagrada a Nossa Senhora da Penha de França, tudo indicando que a sua construção deve ter começado no princípio do último quartel de Seiscentos (tendo por base a actual sacristia, como peça mais antiga) e estaria praticamente concluída na viragem do século, apesar das torres da frontaria só terem sido rematadas pelo fundador da fábrica, José Ferreira Pinto Basto, ainda que de acordo com o projecto inicial. Capela barroca mandada erigir pelo Bispo de Miranda D. Manoel de Moura Manoel como voto que fizera à Padroeira.
Arquitectura religiosa de bonita aparência, o seu interior apresenta características maneiristas; edifício de planta longitudinal, com desenvolvimento erudito das molduras arquitectónicas, típico da quase totalidade da arquitectura portuguesa de Seiscentos. Decorada com magníficas pinturas murais e silharias de notáveis azulejos do primeiro terço do século XVIII, nele se encontra o túmulo do Bispo de Miranda, D. Manoel de Moura Manoel de pedra calcária de Portunhos, circunscrevendo este exemplo de arte tumulária é um dos melhores programas iconográficos da Arte Portuguesa em torno da ideia da Vanitas. O túmulo de D. Manoel, bem como um outro, de menores dimensões, de uma sua descendente, reflectem o gosto típico do escultor francês Claude Laprade.
O intenso programa de frescos que cobrem a abóbada da nave com a árvore de Jessé, e a capela-mor com a Assunção da Virgem, a acrescer aos da sacristia e aos do arco do coro-alto surgem como um motivo de interessante peculiaridade. A fachada apresenta já elementos caracterizadamente barrocos, pelas soluções das torres sineiras e pelo uso de alguns elementos redundantes.
Implantada no largo da Fábrica da Vista Alegre e rodeada pelo conjunto urbano operário que aí se desenvolveu, é um ponto de referência no Concelho.
Museu da Vista Alegre
Situado no terreno da fábrica de porcelanas com o mesmo nome, o museu da Vista Alegre expõe o registo da evolução no fabrico da porcelana portuguesa. Inaugurado no ano de 1947, tem patente ao público uma vasta gama de magníficos exemplares da porcelana decorativa e doméstica.
O visitante é convidado a entrar no mundo dos primeiros vidros fabricados, nas peças únicas dos finais da monarquia portuguesa, nas peças comemorativas de datas assinaláveis, e nas diversas decorações executadas ao longo destes 176 anos de fábrica.
Anexo à Fábrica-Mãe do Grupo Vista Alegre, o museu constitui por si só um bom motivo para visitar o lugar da Vista Alegre, com a possibilidade de aquisição de porcelana na loja anexa, ou simplesmente, uma visita à memória viva do complexo social da Vista Alegre, um dos primeiros do país.